“A universidade está em crise. Isto ocorre porque a sociedade está em crise; através da crise da universidade é que os jovens funcionam detectando as contradições profundas do social, refletidas na universidade.”- Mauricio Tragtenberg – “A delinquência acadêmica”.
Para a educação, o ano de 2020 foi bastante difícil. Como se não bastasse, o ano foi marcado pelo aprofundamento das desigualdades de ensino e aprendizagem, pelo aumento do custo de vida, pela incerteza econômica. Agravadas pelos cortes nas bolsas de incentivo a pesquisa e a insuficiência das políticas de permanência, o curso de Ciências Sociais caminha rumo a um cenário de incertezas.
A Unesp está desde o ano de 2014 sem realizar contratações de professores e professoras, precarizando o ensino e a formação, principalmente dos cursos de licenciatura, que atualmente contam com um baixo quadro de professores, gerando sobrecarga docente e afetando a possibilidade de grupos de estudos, orientação de pesquisas e diversidade de temas.
A crise universitária que está posta não é de hoje. A proposta da Reitoria está expressa em seu plano de Sustentabilidade Orçamentária de agosto de 2018, em que basicamente coloca a culpa e a conta desta crise nas costas dos servidores técnico administrativos, estudantes e terceirizados/as.
Se retornarmos à esta proposta, especificamente em relação à reformulação acadêmica contida neste plano, é expressa e prevista a orientação pela fusão departamental e o fechamento de cursos em duplicidade, ou ainda, a aglutinação de cursos duplicados em apenas um campi (como seria o caso de Ciências Sociais em Araraquara e Marília), justificando desta forma o encerramento dos cursos em campis “a partir da consideração de critérios como índice de procura, índice de evasão, empregabilidade, etc.”.
Em suas ações estratégicas, o plano ainda pretende avaliar a pertinência de manutenção de oferecimento de cursos com baixa procura e de altos índices históricos de evasão, juntar turmas de cursos onde tenham disciplinas em comum e elaborar critérios restritivos para criação de novos cursos.
Em recente reunião de departamento do curso de Ciências Sociais, realizada no dia 18 de Janeiro, foi demonstrada que essa possibilidade de fechamento e de crescente precarização se avizinha do curso de Ciências Sociais. A precarização é evidenciada pela consecutiva diminuição de oferta das disciplinas optativas e o quadro reduzido de professores da área de sociologia, que atualmente conta com apenas 2 docentes.
Diante deste quadro, o conselho de curso colocou à apreciação a proposta de realizar a exclusão ou a junção de matérias em resposta a este baixo quadro de professores: uma proposta que caminha em perfeita conformidade ao Plano de Sustentablidade Acadêmica da REItoria.
Toda essa problemática se soma à insuficiência das políticas de permanência estudantil, tendo como retratos mais evidentes falta do Restaurante Universitário, fechado desde dezembro de 2014 e o descaso e a negligência institucional com a moradia estudantil e os/as estudantes pobres, antes e durante a pandemia.
Nesse sentido, a precarização se aproxima cada vez mais do curso em Araraquara, minguando suas forças e marchando em direção ao seu fechamento. Os critérios escolhidos pela Reitoria para eleger o curso que deve ser mantido vão de encontro com uma série de ataques provocados a universidade, e, no caso, ataques cotidianos à FCLar: taxas de evasão estão comumente relacionadas a falta incentivo em permanência estudantil, uma vez que estudantes que não podem arcar com as despesas como moradia, alimentação e transporte, acabam por desistir do ensino superior – o índice é maior ainda ao perceber que grande parte dos estudantes dependentes da permanência estudantil são do curso de Ciências Sociais;
Os critérios de empregabilidade estão em conformidade ao plano de não contratação que estamos vivenciando – muitas das disciplinas obrigatórias, acumuladas em poucos docentes, sujeitam doutorandos e doutorandas a arcarem com as aulas de forma integral, porém, recebendo apenas uma bolsa que não está em conformidade a remuneração de professores e professoras – é o sucateamento da pesquisa e das condições de trabalho.
É imprescindível que as entidades estudantis, como o Centro Acadêmico Florestan Fernandes, incentivem e fomentem espaços de discussão como plenárias e assembleias, organizando um calendário de agitação e denúncia contra o desmonte do curso de Ciências Sociais, com olhos atentos ao que se desdobra também em Marília.
Na FCLar, vivemos um cenário de acriticidade e falta de politização dos repasses dos conselhos de curso, de reuniões de departamento, alinhado muitas vezes a acriticidade do próprio entendimento de luta estudantil pelos representantes de Ciências Sociais, além de um atropelamento de pautas durante os espaços de discussão. É necessário que nós, estudantes, estejamos atentos e atentas aos ataques silenciosos que nos apresentam em microdoses, como se fosse apenas mais um reunião de departamento, apenas mais uma proposta que ainda vai ser discutida – mas, lembramos que é dessa forma, aos poucos, que vai se desmanchando a qualidade do ensino, as condições de permanência, a qualidade do trabalho… até que não nos reste mais nada.